Confrontados com as injustiças geradas pelo modelo de tudo ou nada no que respeita à concessão de uma indemnização na responsabilidade civil, a dou‑ trina europeia e anglo-saxónica procurou um modelo de partilha de risco. Foi neste contexto que nasceu a perda de chance. Embora inicialmente fosse vista como uma forma mais flexível de compreender a causalidade e como uma responsabilidade parcial, hoje em dia é considerada por muitos como um novo dano - um dano intermédio - o qual se traduz na perda de uma oportunidade.

Apesar dos benefícios que lhe são reconhecidos, esta teoria é alvo de muitas críticas, nomeadamente quando usada no campo da responsabilidade médica, curiosamente, aquele onde o seu uso parece ser mais sedutor. Con‑ tudo, a imprevisibilidade que governa a prática da medicina e a sistemática existência de riscos inerentes relacionados com a condição patológica do paciente não são compatíveis com uma solução que responsabiliza o agente pela criação de um risco. Logo, recomenda-se extrema prudência no que res‑ peita ao uso da perda de chance na responsabilidade médica.