Resumo: Têm ocorrido diversos casos de casamentos falsos entre residentes de Macau e não residentes, pretendendo estes últimos obter documentos que Ihes facultem a entrada, permanência ou autorização de residéncia na RAEM. Estes, quando descobertos, têm sido julgados nos termos do artigo 18.°, n.°2, da Lei da Imigração Ilegal e Expulsão, onde se encontra uma situação específica de falsificação de documentos. A pergunta que se coloca consiste em saber se a simulação é ou não um elemento integrante do conceito de "falsificação de documentos", nomeadamente de falsificação ideológica. Para além da análise e tomada de posição sobre esta questão, vamos ainda abordar as consequências civis de um casamento simulado que venha a ser anulado. Produzirá efeitos inter partes, bem como relativamente a terceiros? Quid iuris se tiverem nascido filhos dessa união? Em jeito conclusivo referiremos que, numa perspectiva jurídico-penal, existem opiniôes no sentido de que a simulação é apta a preencher a falsificação de documentos e outras em sentido inverso. No nosso entender, serão de destrinçar as finalidades da própria simulação de modo a distinguir entre as que realmente não têm dignidade penal das que podem ter, apelando por isso à criação de um tipo de crime específico referente aos casamentos simulados com os fins previstos no artigo 18.°, n.°2, da supra referida Lei, respeitando-se assim o princípio da legalidade penal.