O texto procura, a partir de um olhar êmico para a comunidade de Calulo (Libolo, Angola), discutir as dinâmicas sociais que as línguas assumem neste contexto, buscando, especialmente, identificar o espaço que a língua portuguesa e as línguas africanas ocupam no discurso de jovens estudantes angolanos. Para este empreendimento, trabalhamos com noções de pluri-multilinguismo, língua como repertório, como prática local e como performance e usamos a metáfora da fronteira como instrumental teórico-metodológico para criar interlocução com os dados. Partimos da ideia de que a natureza da fala é social, o que significa dizer que o discurso dos sujeitos são recortes das vivências socioculturais ancarodas nas comunidades das quais pertencem e, assim, ganham significativo grau de representatividade das ideologias desses grupos. Dos discursos construídos numa conversa de grupo focal, fica evidenciado que os jovens sujeitos sinalizam tanto o desejo de resgatar línguas africanas em estado de concorrência com o português quanto a identificação da língua que falam como um português local, distinto de outras variedades. A discussão levantada pode servir como uma referência para ações de gestores comunitários, escolares, acadêmicos e governamentais no sentido da concertação de políticas linguísticas pautadas no conhecimento gerado pelas próprias comunidades angolanas.