O objetivo deste artigo é descrever como a língua portuguesa se tornou
majoritária na República de São Tomé e Príncipe e, ao mesmo tempo,
demonstrar como o seu crescimento está associado ao abandono das
demais línguas faladas no arquipélago. Para tal, mostraremos que
o sucesso na difusão do português não foi fruto somente de políticas
linguísticas levadas a cabo pelo governo, mas também das dinâmicas
sociolinguísticas do contexto multilíngue do país. Assim, a existência
mesma da língua portuguesa em São Tomé e Príncipe está associada
a um complexo processo sócio-histórico, ao apagamento das línguas
faladas no território (tanto as autóctones como as transplantadas), ao
desejo difuso das elites locais de se manterem ligadas a uma língua
imperial (real ou imaginária) e de se beneficiarem dessa ligação. Esse
desejo provocou, no percurso, o silenciamento da diversidade linguística,
influenciando as normas sociolinguísticas do arquipélago. Dessa forma,
as línguas faladas no território, incluindo a língua portuguesa, decorrem de processos sócio-históricos de dominação de grupos no poder e fora
dele, sobrevivem e se tornam obsoletas ao sabor de forças que excluem
ou limitam a ação do Estado como promotor e agente de práticas oficiais
de ensino e difusão.